A solidariedade transformou o último sábado (25) para algumas famílias
dos bairros Jardim Clementino, Leme e Silvio Sampaio, em um dia alegre, de
esperança e incentivo para recomeçarem novamente suas vidas, após perderem tudo,
que conquistaram com anos de trabalho na tempestade da última quarta-feira (22)
em Taboão da Serra. Relembre aqui, aqui e aqui.
O cenário de destruição e desolamento das famílias deu lugar
a novos semblantes com sorrisos, agradecimentos e confiança de que a limpeza do
córrego Pirajuçara, iniciada pela Prefeitura após a inundação, de fato irá
evitar mais enchentes e tragédias como a que marcou a vida deles.
As famílias receberam cestas básicas, kits com guloseimas
para as crianças, roupas e materiais de limpeza, além de colchões e conjuntos
de cama, mesa e banho. Antes da entrega, feita em comboio por cerca de 30
pessoas, muito trabalho e dedicação foram as ferramentas principais para a
arrecadação de uma grande quantidade de donativos e a montagem dos kits.
O evento “1º Mutirão do Jardim Leme e Região” foi criado na
rede social Facebook. Na página 365 pessoas confirmaram presença, porém somente
30 compareceram. Apesar disso, o brilho da solidariedade e amor ao próximo não
se apagou, pelo contrário reascendeu.
As visitas e os relatos comoveram bastante. Em cada residência
era notável a tristeza das famílias, o olhar desolado e o semblante cansado de
tantos dias de limpeza, das casas que ficaram tomadas por água, galhos, folhas
e muita lama. O cansaço se resumia também em amontoar os móveis, eletroeletrônicos
e roupas que foram perdidas na enxurrada. A dor marcou cada ação deles.
Dona Aurenita Ferreira Santos de 56 anos estava tentando
lavar as paredes de sua casa até a tarde deste sábado. A força da água que invadiu
o local foi tamanha que arrastou os móveis prensando ela e seus familiares
contra a parede, além de ter quebrado a vidraça, portas e abalado à estrutura
da casa. A altura da água chegou a ficar no pescoço das vítimas e desesperou a
todos da família.
“Os vidros explodiram. A porta do banheiro quebrou e a da
cozinha voou. Tudo dentro de casa caia e com a força da água, nos prensava no
canto, não tivemos saída. As paredes tremiam. Era como se fosse um redemoinho. Uma sensação
horrível”. “Na primeira noite, o cansaço era demais que nem pano seco tínhamos para
colocar no chão. Dormimos em cima do cobertor molhado mesmo”, detalhou.
Apesar da tragédia que assolou a família, chega a ser
impressionante a fé, esperança e a determinação que demonstram. “O fogão só
funcionou uma boca. O guarda-roupa está molhado (estufado), mas como não caiu no chão,
acho que ainda dá para limpar e usar. Meu filho ainda está pagando as parcelas
dele. O microondas foi carregado pela água, mas tenho esperança que se limpar, volta a funcionar”, disse com brilho nos olhos.
A jovem Raiane de Matos de 16 anos mostrou sua tristeza por
ter perdido todo o enxoval, fraldas e o berço do seu filho, que ainda nem
nasceu. Ela está grávida de seis meses e faria o chá de bebê, dia 19, porém com
a perda de tudo que ganhou e, o trabalho árduo do marido, Josivan da Silva, cancelou
a comemoração.
Ele estava embriagado quando visitamos a residências da família.
Não porque é bêbado, mas sim porque achou no álcool uma maneira de fugir dessa
realidade. “Perdemos tudo em menos de dois minutos”, disse.
A inquilina da residência, que mora nos fundos, Michele dos Santos , relatou que quase
morreu afogada, porque dormia quando a água invadiu seu quarto. “A água chegou
a ficar no meu pescoço, tive que arrebentar a porta da casa para conseguir me
salvar”.
Nem mesmo a comporta feita na casa da dona Marli Aparecida
Novaes de 54 anos conteve a força da água. O pequeno muro foi derrubado e a enxurrada
invadiu a residência, com muita força. Ela limpava sua casa, quando chegamos. “Perdi
tudo. Veio derrepente. Fico agoniada, lutamos para ter as coisas e perde assim.
Mas, a esperança não pode acabar”, disse.
No quintal dela era possível encontrar o sofá e as cadeiras repletos
de barro. No leito do rio Pirajuçara, rua Nicola Gentili, muitas roupas foram
descartadas pelos próprios moradores. Elas já não tinham mais uso.
Cada família contou a reportagem que aproximadamente mais de
dez anos não enfrentavam uma enchente como
essa. Dona Aurenita, enfrentou na última quarta, a 2ª enxurrada de sua vida, já
Marli, apesar de ter colocado escada e comporta, também foi alvo novamente da
tragédia.
Prefeitura
A prefeitura de Taboão da Serra entregou nesta manhã mais cestas
básicas, kits higiene e colchões para as famílias do Jardim Leme. Na quarta após
a enchente e quinta, as famílias também receberam a ajuda do órgão. Na ocasião,
a Defesa Civil realizava o desassoreamento do córrego Pirajuçara e a limpeza
dos bueiros, tanto no Leme, quanto no Jardim Clementino.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil, Mário Gomes,
600 famílias foram atingidas pela cheia. Doze residências foram interditadas,
duas delas desabaram para dentro do rio e as outras estavam bem próximas do
rio. Essas doze famílias receberam bolsa aluguel no valor de R$ 450. Além de
auxílio. Ainda, segundo ele, as demais famílias foram convidadas a saírem de
suas residências para hotéis, porém não quiseram, ou preferiram ir para casa de
parentes.
O prefeito Fernando Fernandes, que visitou diversas casas na
manhã de quinta e sábado, afirmou que os moradores prejudicados terão remissão
do IPTU. Para isso devem procurar o
Departamento de Cadastro, na Prefeitura.
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